Textos e poemas por estudiosos e membros de nomeadas Nações e Grupo de Maracatu
Maracatu (poema)
Ascenso
Ferreira
Zabumba de bombos, Estouro de bombas, Batuques de
ingonos, Cantigas de banzo, Rangir de ganzás...
- Loanda, Loanda, aonde estás? Loanda, Loanda, aonde
estás?
As luas crescentes De espelhos luzentes, Colares
e pentes, Queixares e dentes De maracajás...
- Loanda, Loanda, aonde estás? Loanda, Loanda,
aonde estás?
A balsa do rio Cai no corrupio Faz passo macio,
Mas toma desvio Que nunca sonhou...
- Loanda, Loanda, aonde estou? Loanda, Loanda,
aonde estou?
Ascenso Ferreira (em Catimbó, p.28)
Breve Histórico sobre a origem das Nações
O maracatu, da forma hoje conhecida, tem suas origens na Instituição
dos Reis Negros, ou Reis do Congo, já existente na França e Espanha desde o Século XV e em Portugal a partir do XVI.
Em
Pernambuco, a coroação era realizada no dia de Nossa Senhora do Rosário e dirigida pelo pároco daquela Freguesia. Documentos
sobre as coroações de Soberanos do Congo e de Angola, datados a partir de 1674, comprovam a realização das cerimônias na igreja
de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na Vila de Santo Antônio do Recife. Os cortejos dos Reis Negros podiam ser
vistos pelo povo durante as festas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário e Santo Antônio, quando as Cortes saíam às ruas,
ainda sem a denominação de Maracatus. Acompanhe parte do texto de um jornal de 1851, que descreveu os cortejos tomando as
ruas do Recife: "... percorrendo à tarde algumas ruas da cidade, divididas em Nações, cada uma das quais tinham à frente seu
Rei acobertado por uma grande umbela ou pálio de variadas cores, tudo, dessa vez, à boa paz e sossego, pois estava a polícia
responsável pelas Cortes Soberanas e pela segurança de todas as Nações Universais Africanas". Pálio, ou umbela é uma grande
sombrinha decorada que representa o palácio dos Reis Negros. A expressão umbela deriva do inglês "umbrella", que significa
sombrinha.
Os senhores de terra (chamados pelos escravos de "grandes senhores" ou "grandes homens") utilizavam o termo
"maracatu" para se referir à reunião dos negros em Nações, provavelmente como forma de desrespeito às suas tradições.
Do
Século XVI até o final do XIX, durante o período da Instituição dos Reis Negros, as Nações eram regidas pelos Orixás Xangô
(deus do trovão, justiceiro) e Iansã (deusa do raio, guerreira), Rei e Rainha do povo Nagô. Em 1889, os "grandes senhores"
afastaram os Reis do Congo do poder e fracionaram as antigas Nações Negras. Temendo uma possível união organizada entre elas,
deixaram os Babalorixás (Pais de Santo) como líderes dos membros de suas respectivas Nações de Candomblé. Este acontecimento
fez com que os Babalorixás difundissem livremente os princípios de sua religião, marcando o início do domínio de vários Orixás
nas Nações de Maracatu. A partir daí, as Nações puderam desfilar durante o Carnaval.
Toda Nação de Candomblé e toda
Nação de Maracatu é regida por um Santo (Orixá), a exemplo do Ilê de Oxóssi (Casa de Oxóssi), dirigido por Dª Elda, atual
Rainha da Nação do Maracatu Porto Rico. O Orixá cabeça da casa e dela é Oxóssi, o deus da caça, das florestas úmidas. Já a
Nação do Maracatu Porto Rico é dominada pelo Orixá Ogun, o deus do ferro, dos ferreiros e de todos aqueles que utilizam esse
metal. Isso deve-se ao fato de que Seu Eudes, antigo Rei da Nação, era filho de Ogun e quando Dª Elda recebeu o Porto Rico
ele já tinha uma Nação de Candomblé de origem, onde existia o "Palácio de Ogun", com o predomínio das cores verde e vermelha,
presentes nos instrumentos da Nação do Maracatu Porto Rico.
As atuais Nações de Maracatu ainda guardam muitas características
da Instituição dos Reis Negros. Com o tempo, a tradição religiosa ganhou força, o termo "maracatu" foi definitivamente incorporado
ao nome da manifestação e esta evoluiu para folguedo popular, tornando-se um dos principais elementos da nossa Cultura.
A boneca do maracatu é outro elemento que vem aguçando o interesse dos pesquisadores. Chamada
de Calunga, a boneca já foi objeto de um ensaio escrito por Mário de Andrade. De caráter inegavelmente religioso, ela seria
"a representação de uma divindade dos povos de Congo e Angola, ou seria ela própria uma divindade ou, ainda, um objeto que
dá força e proteção por causa da consagração recebida", segundo Benjamim. A calunga, além de passar por um ritual religioso
de iniciação, é batizada e recebe tratamento de princesa. Algumas são até famosas e respeitadas: Dona Clara, Dona Leopoldina,
Dona Isabel, Dona Emília, Dom Luís.
Maracatu no Dicionário
Aurélio [Talvez de or. afr.] S. m. Bras., PE. 1. Cortejo carnavalesco que baila ao som de instrumentos
de percussão, acompanhando uma mulher que na extremidade de um bastão conduz uma bonequinha ricamente enfeitada, a calunga.
2. Mús. Música popular inspirada nessa dança.
Michaelis ma.ra.ca.tu sm 1 Dança de origem africana, em que se executam passos
e sapateados, ao som de violas, flautas, cuícas, chocalhos, pandeiros etc., e com acompanhamento de canto, em toada seca.
2 Música popular brasileira inspirada nessa dança.
Houaiss maracatu
s.m
(1890 cf AGC) B 1 DNç ETN dança em que um bloco fantasiado, bailando ao som de tambores, chocalhos e gonguê, segue uma mulher,
que leva na mão um bastão em cuja extremidade tem uma boneca ricamente enfeitada (a calunga) e executa evoluções coreográficas
2 MÚS música popular inspirada nessa dança. ETM orig.afr., prov. banta. AGC = Antônio Geraldo da Cunha. Dicionário Etimológico Nova Fronteira de Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro, 1982, 2a ed., 1986.
Instrumentos do Maracatu
Nação
Guerra
Peixe (citação)
A orquestra do Maracatu é constituída apenas por instrumentos de percussão, está fundamentada num singular
agrupamento musical e não comporta mutação alguma, sob o risco de alterar aqueles valores mais característicos, os quais conferem
à sua música toda a imponência e expressão primitivas. (...) De qualquer forma, integram a orquestra do Maracatu: um gongué,
um tarol, caixas-de-guerra e zabumbas, unicamente. Por exceção, apenas um ganzá participa da orquestra do Estrela Brilhante
(...).
Guerra-Peixe (em Maracatus do Recife, p.57)
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